quarta-feira, 4 de março de 2009

A Paraíba e suas tragédias

A história política da Paraíba tem sido marcada por episódios que denigrem, lamentável, a imagem do Estado lá fora. E isso não é de hoje. Vem de muito tempo. Há um dia que ficará marcado para sempre como uma de nossas maiores tragédias eleitorais. Não me refiro ao processo de cassação do ex-Governador Cássio Cunha Lima, nem aos tiros desferidos pelo ex-governador Ronaldo Cunha Lima contra Tarcísio Burity. Trata-se do “fatídico 9 de julho de 1950”, portanto, vai completar 59 anos neste ano.

Politicamente incendiada com as candidaturas de José Américo de Almeida e Argemiro de Figueiredo ao governo do Estado, Campina Grande vivenciou na noite daquele dia um dos episódios mais violentos já registrados pela crônica política local, com o saldo de três mortes, 20 feridos graves e um número incontável de pessoas com leves contusões e escoriações generalizadas.

Relembram historiadores que “desde cedo, naquele domingo de sol, Campina viveria um clima misto de festa e apreensão”. Caminhões e ônibus de todos os quadrantes do Estado chegavam pelas estradas poeirentas do litoral, do sertão, do brejo, do cariri e do curimataú, trazendo milhares de argemiristas para participar de um comício na Praça da Bandeira, onde não por coincidência também iria ser inaugurado o vistoso prédio dos Correios e Telégrafos.

A chapa da Aliança Republicana, coligação encabeçada por Argemiro, se completava com Renato Ribeiro Coutinho, candidato a vice-governador e com Pereira Lira, que pleiteava uma vaga ao Senado. A coligação adversária, sob o comando de José Américo, apresentava João Fernandes de Lima, para vice-governador e Ruy Carneiro para o Senado.

A campanha americista havia realizado poucos dias antes – 28 de junho – um comício-monstro na cidade. A manifestação fora organizada para deixar claro para os eleitores campinenses que a Coligação Democrática Paraibana tinha se superado na capacidade arregimentadora de simpatizantes, criando uma natural perspectiva de vitória.

Os argemiristas registraram o golpe e marcaram para o dia nove de julho um comício maior do que o dos adversários. Desde cedo, naquele domingo, eleitores de várias regiões do Estado, munidos de faixas, bandeirolas e cartazes, começaram a invadir as ruas de Campina Grande.
Conta-nos os historiadores que “se não foi absolutamente o maior, aquele comício vespertino, com artistas do Rio de Janeiro e numerosas caravanas do interior e da capital do Estado, deve se situar entre as maiores concentrações políticas já ocorridas em Campina Grande. Era um verdadeiro mar humano que se espraiava por toda a Praça da Bandeira”.

Durante o comício, tudo transcorreu com relativa tranqüilidade. Oradores se sucederam na tribuna. Os aplausos não paravam. Lideranças como Joacil de Brito Pereira, Álvaro Gaudêncio, Ernani Sátyro, João Agripino e Pereira Lira, além de Argemiro de Figueiredo, foram ovacionados.
A multidão delirava com os discursos dos seus líderes e a seguir passaria a aplaudir os seus ídolos – os artistas do Rio de Janeiro, vindos especialmente para o comício. Concluída a apresentação dos cantores, Argemiro e os demais membros da caravana aliancista foram homenageados com um jantar na residência do ex-prefeito Ernani Lauritzen. Parecia, então, que tudo terminara bem.

NO FIM, A TRAGÉDIA
Os argemiristas já iam saindo em passeata, comemorando o êxito da manifestação, quando, entre as oito e nove horas da noite, num passe de mágica, começaram a surgir nos canteiros da praça grupos ligados à campanha de José Américo.

Estes também resolveram sair em passeata, embora a polícia houvesse proibido manifestações de outros partidos. O grupo foi se avolumando á medida que ganhava as ruas do centro de Campina Grande.

Antes, os americistas ocuparam o palanque de Argemiro, já completamente vazio. Esta “invasão” foi tomada como provocação, até porque eles começaram a querer falar para o público, num espaço que não era deles. A partir daí, o tumulto se generalizou.

Os historiadores relatam: Tudo aconteceu em poucos minutos. Os tiros foram detonados por revólveres e outras armas curtas. Se houve rajadas de metralhadoras, elas foram acionadas para cima. Do contrário, o total de mortos e feridos teria sido bem superior às três vítimas fatais e aos 15 a 20 feridos, pois era elevadíssimo o número de pessoas que ainda se encontrava na praça.

Decorridos todos esses anos da chamada “Chacina da Praça da Bandeira”, ainda permanece impossível ter-se daquele acontecimento uma visão clara e verdadeira de tudo o que aconteceu. Há muito mistério envolvendo o episódio.

Após tudo o que aconteceu, a cidade se cobriu de luto. Jornalistas de João Pessoa e Recife chegaram à cidade para repercutir o fato. Durante mais de duas semanas, depois da “chacina”, não houve mais comícios. Finalmente, apuradas as urnas de 3 de outubro de 1950, José Américo de Almeida foi eleito governador, superando Argemiro de Figueiredo, em Campina, por uma diferença de 4.478 votos. A disputa eleitoral havia terminado. Mas o “fatídico 9 de julho” permanecerá por muito tempo ainda na história política da Paraíba.

Quase 60 anos depois, outras tragédias permanecem vivas em nossas mentes. O tiro contra Burity ainda vai ser muito explorado, igualmente à cassação de Cássio Cunha Lima; a prisão do Senador Cícero Lucena pela Polícia Federal na chamada Operação Confraria; o suposto envolvimento do ex-Senador Ney Suassuna na batizada “Máfia das Sanguessugas”; a suposta ligação do também Senador Efraim Morais em escândalos no Senado, dentre tantos outros. Uma coisa é certa, a Paraíba não merece outras tragédias. Que Deus possa nos abençoar sempre!

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